segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Filme para variar... Capitães da areia

2012 foi o ano dos centenários de grandes mestres do Brasil. Cem anos de Luiz Gonzaga. Cem anos de Nelson Rodrigues. E cem anos de Jorge Amado. Sendo os dois primeiros pernambucanos e o último baiano. Eu tenho orgulho dessa gente que é do Nordeste, que foi e é importante para a nossa cultura e que gravou seu nome na nossa história com poesia, teatro e prosa.

Confesso que até hoje só tive a oportunidade de ler duas obras do Jorge Amado. Capitães da areia em 2010 e Gabriela, cravo e canela agora em 2012.

É repetindo as palavras de tantos doutores em literatura que digo aqui que Capitães da areia, publicado em 1937, provavelmente foi uma das mais importantes obras de Jorge Amado. Tendo sido seu sexto romance publicado, é o clássico brasileiro que aborda de forma mais nua o descaso com crianças abandonadas. O livro transmite de forma muito realista a vida dos menores abandonados e Zélia Amado afirma que isso foi resultado das vezes que o escritor foi dormir no meio dessas crianças. Repudiado, proibido e incinerado em praça pública por causa da repressão ao “comunismo”, o livro continua sendo atual mesmo depois de mais de setenta anos.
Em 2011, Cecilia Amado, neta do escritor, presenteou a todos nós com uma nova adaptação cinematográfica da história... E essa enrolação todinha é porque eu vou falar de filme, para variar.
Apesar de precisar suprimir diversas subtramas presentes no livro, Cecília foi bem aventurada na sua produção, que veio como uma abertura para as comemorações do centenário de Jorge Amado.
Para quem não conhece a história, vale a pena saber que os Capitães da Areia são um grupo de meninos abandonados que sobrevivem praticando roubos pelas ruas da Bahia e moram em um casarão abandonado à beira mar que chamam de Trapiche. Pedro Bala (Jean Luis Amorim) é o chefe da turma [que eu não ouso chamar de gangue] e é ele quem lidera as organizações criminais, haha, além de funcionar como um pai para os meninos todos.
Os coadjuvantes do livro que foram trazidos para o filme são Professor (Robério Lima), o único que sabe ler do grupo, é quem ganha dinheiro fazendo desenho das pessoas nas ruas e conforta os garotos suas histórias; Sem Pernas (Israel Gouvêa de Souza), um aleijado briguento que se passa por órfão para conquistar o afeto de uma família para assaltar a casa dela; Gato (Paulo Abade), o mais arrumado do grupo, que vive agarrado com Dalva (Ana Cecília Costa), uma prostituta; e Boa Vida (Jordan Mateus), o molecão mais vivo do grupo. Basicamente os mais importantes do livro.
Apesar dos conflitos, o grupo é muito unido e “toca o terror” nas ruas da Bahia, sempre tendo sua cota de manchetes garantida em todos os jornais locais. A primeira menina a entrar nesse grupo é Dora (Ana Graciela Conceição), uma órfã por causa da varíola e ela se torna a mãezinha dos meninos.
O livro é tão bem escrito e a história é tão real e convincente que você fica achando que o autor situou a história na semana passada até que você lê que Lampião e seu bando estão vivos e você se dá conta que Pedro Bala e os Capitães da Areia povoam os anos trinta. E meus respeitos à Cecília Amado por ter mantido a temporalidade original do romance.
O filme mantém uma determinada fidelidade ao original embora a imagem de Pedro Bala tenha sido preservada com certo romantismo e algumas coisas tenham sido omitidas - um estupro, por exemplo. Entre todos os atores, só reconheci a Luciana Souza (interpreta Dona Luiza). Os jovens atores escolhidos deram vida aos personagens de uma forma muito boa.
A trilha sonora é assinada por ninguém menor ou menos baiano que Carlinhos Brown e se encaixa de uma forma fascinante às cenas, que são tão boas que me deram uma saudade do livro urgente.
Exatamente por isso, comecei uma releitura do livro e agora me sinto nada menos que satisfeitíssima e ainda mais apaixonada por esta história.
Apesar de não gostar de livros cheios de gírias, quando é Jorge Amado escrevendo, nem me incomodo com o tanto de linguagem regional que ele utiliza nas falas de seus personagens e as vezes na própria narração, tudo isso insere o leitor ainda mais no contexto.

No final do livro fica clara a posição política do autor Jorge Amado, o motivo de seu exílio e da proibição do livro. Palavras como "companheiro, camarada, revolução e greve" vêm aos montes trazendo à público uma propagando explícita ao credo vermelho.

Recomendo a todos que leiam/assistam Capitães da areia. E parem, por favor, com esse preconceito com literatura e cinema nacional, Capitães da areia é mais casto que Cinquenta tons de cinza!
Ficha Técnica:
Título Original: Capitães da areia, baseado no romance homônimo de Jorge Amado
Duração: 96 minutos
Gênero: Drama, Aventura
País/Ano: Brasil/2011
Direção: Cecília Amado e Guy Gonçalves
Elenco principal: Jean Luis Souza de Amorim, Ana Graciela Conceição da Silva, Romário Santos de Assis, Israel Vinícius Gouvêa de Souza, Elielson Santos da Conceição, Paulo Raimundo Abade Silva

5 comentários:

  1. Que post fantastico, amei mesmo pq li esse livro a tempo e amei, sabe um livro que me marcou???? Estou com Tieta aqui em casa para ler mas ainda não comecei!!! O filme ainda não vi mas já que vc falou que a adaptação ficou boa, confio, vou ver. Bjos e sucesso!!!!

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  2. Não vi o filme, mas li o livro há um tempão e achei ele muito bom.
    Nem sei se ainda o tenho, mas se tiver o coitado ja deve estar bem acabado, pq lembro q ele passou de mão em mão...

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  3. Eu não vi o filme e nem li o livro, mas depois da resenha fiquei bem animada e muito curiosa. Muito interessante mesmo a história, fiquei bem animada para ler.

    Thais Vianna
    @dathais

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  4. Adorei o review, Mi!
    Tenho a maior vontade de ler esse livro. E sabe, acho que muitos dos que têm preconceito com a literatura nacional, não incluem os grandes nomes nesse preconceito (apenas acho haha).
    Li uma resenha de Capitães da Areia e fiquei doida pra ler o livro. A história parece ser tão real, tão "personagens que parecem de verdade", que o único motivo de ainda não ter pego o livro pra ler é o tamanho da minha lista de leitura hehehe Mas certamente é um livro que pretendo e lerei algum dia. Quando o fizer, então assisto o filme.
    Beijos!!

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  5. Eu não li o livro e nem vi o filme. Eu tenho a maior vontade de conhecer as obras de Jorge Amado só que ainda não achei a oportunidade. Agora, quando li essa resenha a vontade de ler ficou imensa ><.

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Obrigada!