A vida em tons de cinza || Leitura Crítica

Eu já tinha visto anteriormente o livro A vida em tons de cinza, mas não tinha despertado muito meu interesse, depois que descobri sobre o que tratava mudei completamente minha posição.

Por ser um livro que trata sobre um fato histórico, claro que eu fui pesquisar (em livros de história) e não encontrei nada sobre Stalin, integração e genocídio na Lituânia, Estônia e Letônia.

Durante o reinado de horror de Stalin, ele deportou diversos cidadãos dos países bálticos considerados antissoviéticos. No exílio, muitas dessas pessoas morreram de frio, fome e por causa dos trabalhos forçados.

Lina é uma lituana de classe média que se vê obrigada a deixar sua casa para trás com sua mãe e seu irmão. Eles são levados em um trem de carga para animais com outras pessoas para um campo de trabalho coletivo e são forçados a trabalhar para o exército de Stalin, enquanto a Lituânia é tomada para ser integrada a Rússia.

Durante a viagem, sob condições precárias, ela conhece várias pessoas e elas começam a criar vínculos.

A narrativa é em primeira pessoa, por Lina, e entremeia momentos do presente e lembranças da garota. A mãe e as crianças são separadas do pai, que era reitor de uma universidade, mas Lina, que é uma excelente desenhista, decide fazer com que seus desenhos cheguem ao seu pai para que ele possa encontrá-los ao identificar seus traços.

No trem, Lina conhece Andrius, um rapaz da sua idade que logo se torna muito amigo do seu irmão, aos poucos ela vai se descobrindo apaixonada por ele. Mas quando eles chegam ao campo de trabalho forçado, o garoto e sua mãe recebe privilégios que os outros não recebem e isso gera um conflito entre ele e Lina.

Achei os personagens bem construídos, pessoas com mágoas, egoístas, esperançosas, com dúvidas ou culpas. Os sentimentos sempre são expressados com clareza. A mãe de Lina é uma mulher de coração grande, que não se prende a rancores. Lina é uma adolescente, muitas vezes está presa a algumas incompreensões, mas ao longo dessa jornada ela cresce muito como pessoa e aprende diversas lições de amor ao próximo.

Só senti uma faltinha no final de esclarecimentos sobre o desenvolvimento do desfecho da trama.

A capa transmite exatamente a essência do livro, a esperança como uma planta crescendo em meio ao horror no frio e na neve. A esperança foi o combustível para as pessoas que sobreviveram. E o mais interessante de tudo é que depois não houve nenhum tipo de vingança.

50 anos depois, os países bálticos conseguiram sua independência, mas essa história ficou escondida da História. Ruta Sepetys criou um texto maravilhoso baseado em relatos, seu pai é um lituano refugiado.

|| Informações:

A vida em tons de cinza

Ruta Sepetys

Editora Arqueiro

Tradução de Fernanda Abreu

240 páginas