quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Reparação || Leitura Crítica



Estou conservando uma boa dose de atenção para escrever uma resenha para o livro Reparação. Desde antes de começar, já sabia que ia ser um post longo, então PACIÊNCIA!

Comprei o livro em 2011 por indicação da Juh Oliveto do L&B e, na expectativa, fui guardando-o para ler apenas agora em 2012 porque acreditei que estaria mais tranquila. Agora, psicologicamente relaxada, comecei a leitura de Reparação e qual foi a primeira impressão que tive? Decepção, livro cansativo, detalhista e muito – muito – maçante.
Mas tendo certeza que não foi a toa que críticos literários lhe contemplaram com o título de ‘obra-prima’ decidi continuar... Após alguns avanços (lentos, admito), preciso reconhecer a singularidade de Ian McEwan. O livro é excelente, como poucos livros sabem ser.

Dividido em três partes, Reparação fala sobre o quanto uma palavra ou um ato podem mudar vidas positiva e, principalmente, negativamente.
Os personagens são extremamente bem construídos, suas personalidades são elaboradas com dedicação. As cenas são cuidadosamente descrita e por diferentes ângulos, que nos transmitem uma visão completa acerca dos fatos, talvez por isso eu tenha achado bem cansativo no começo, ultimamente tenho embarcado em textos mais leves e Reparação é exageradamente denso.


Na primeira parte conhecemos a família Tallis, que está abrigando as crianças Quincey porque estes estão enfrentando o divórcio dos pais.
A pequena Briony Tallis, para recepcionar o irmão que está chegando com um amigo, escreve uma peça e conta com os primos gêmeos (Jackson e Pierrot Quincey) e a prima, Lola Quincey, para a atuação, mas aos poucos vê todos os seus planos fugirem do seu controle.
A mãe, Emily Tallis, vive trancada em seu quarto sob o pretexto de estar com enxaqueca. O pai, Jack Tallis, nunca está presente para o jantar, mas sempre encontra tempo para justificar sua demora ou falta.
Briony, aos 13 anos, é uma menina que está enfrentando as dificuldades de sair da infância e alcançar a adolescência. Sendo, desde tão nova, uma excelente escritora, é também bastante fantasiosa. Num dia quente do verão de 1935, ela presencia à distância uma cena incomum: sua irmã, Cecília, tira a roupa diante do filho da empregada, Robbie Turner, e mergulha na fonte do quintal. Briony julga compreender os fatos e decide, a partir daí, abandonar a fantasia e escrever coisas mais reais.
Quando Leon chega, convida Robbie para jantar com a família e Robbie pede para que Briony entregue um bilhete a Cecilia. Sua intenção era enviar um pedido de desculpas, mas por um equívoco, o bilhete que chega às mãos de Cecilia contém passagens eróticas que Briony lê e fica ainda mais confusa.
Antes do jantar, Briony entra na biblioteca e presencia Cecília e Robbie transando, esta cena encerra suas dúvidas, Robbie só pode ser um maníaco sexual e Cecília é sua vítima. Durante o jantar, os gêmeos fogem e todos saem à procura.
Após andar um pouco sozinha apenas com uma lanterna, Briony encontra sua prima Lola sendo estuprada, o homem sai correndo sem que nenhuma das duas consiga avistá-lo. Lola, perturbada pela situação se diz capaz de afirmar quem foi, mas Briony diz que sabe quem foi. E acusa Robbie.
A família, ao acreditar cegamente nas palavras da pequena, fecha as portas para qualquer outra hipótese e Robbie é preso, deixando para trás diversas oportunidades e um grande amor.

Na segunda parte, três anos e meio depois, encontramos Turner servindo ao exército para obter uma redução de pena, mantendo um relacionamento por intermédio de cartas com Cecília, que saiu de casa e tornou-se enfermeira, cortando qualquer vínculo com a família depois do ocorrido.
McEwan é incrível ao descrever cenas da guerra de uma forma ágil e envolvente, a disputa pela sobrevivência sem maquiagem.

Na terceira parte, nos deparamos com Briony trabalhando como enfermeira estagiária, sofrendo humilhações e enfrentando realidades diferentes do que ela almejava para si, uma formação em Cambridge, uma vida de escritora, para talvez diminuir o mal causado ou punir-se por ele. No hospital, ela perde sua individualidade e passa a ser apenas a enfermeira Tallis.
As cenas do hospital também são bastante pesadas, McEwan é cruamente realista e eu confesso que em alguns momentos fechei o livro para respirar e pensar em outras coisas porque tenho o estômago bem fraco.

É muito difícil não odiar Briony, ela é bastante estúpida e, por um capricho, destrói várias vidas. Depois sentimos ódio – é claro – com um pouco de pena, não pelos sofrimentos que ela enfrenta no hospital, mas pela culpa que ela carrega, pela certeza do erro cometido que aos poucos ela vai percebendo ser irreparável.
Reparação é um romance, mas acima de tudo é um drama bastante humano e psicológico, vemos pessoas e atos reais e refletimos um pouco sobre nós mesmos.
O epílogo é uma surpresa, que recai mais acerca do lado literário: o poder que um autor tem sobre sua obra.
Ao encerrar o livro fica bastante evidente a seguinte constatação: Ian McEwan é genial!

Indico a leitura sem margem para dúvidas, o livro é bem tramado do início ao fim, mas, por favor, não desperdice tempo e dinheiro (o livro é bem caro) se não estiver preparado para enfrentar um turbilhão de sentimentos. Reparação não tem um texto fácil, não é uma obra leve e não é um momento a toa.

Nem ia mencionar que a capa, além de ser linda, tem uma textura diferente.


Ah, eu tinha avisado lá no começo que ia ser uma resenha longa xD então, aproveitando que chegamos até aqui, que tal falar sobre o filme Desejo e Reparação ? Pois é, corri na locadora com aquela ansiedade e não foi nada frustrante, claro que o filme é mais enxuto, mas não deixa a desejar e não desrespeita a obra do autor do livro. Eu chorei horrores. Recomendo também, mas leiam o livro antes!


|| Informações:
Reparação
Ian McEwan
Companhia das Letras
Tradução de Henriques Britto
444 páginas

|| Observações:
Jan, +1 mês!
E hoje fica decidido: todo dia 16 tem Leitura Crítica, haha!


13 comentários:

  1. Olá Millena querida!
    Bom, assistir ao filme antes ¬¬'
    Mas tipo, faz um tempão e quando assistir, nem imagina que era inspirado em uma obra. Tenho muita, mas muita curiosidade mesmo de ler esse livro. O filme foi incrível e acredito que vou amar o Reparação, já que gosto de uma leitura mais intensa, sou muito a pegada a detalhes e adoro um aprofundamento nas características dos personagens e tbm dos ambientes.
    Pela sua resenha, o livro parece bem parecido com o filme. Adoro ver uma adaptação tão fiel.
    Ameeeeeeeei a resenha, fiquei mais curiosa ainda.
    Bjão mermã!

    -Amigas Entre Livros-

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    1. Pabline, logo que tiver oportunidade, leia este livro!!
      O autor é britânico (onde estão os mestres da literatura mundial) e logo no começo ele cita um trecho de Jane Austen, então já sabe qual o nível, hein?!!

      Beijos!

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  2. Gosto muito deste clássico da literatura inglesa! Já li o livro e também já vi o filme... Em minha opinião, o livro é bem melhor que o filme, pois o roteiro do filme é lento, e os acontecimentos demoram para chegar ao desfecho. Mas já no livro ficamos, com a dúvida em várias partes, fazendo assim com que terminemos o livro o mias rápido possível...
    ps: Eu li o livro em 2 dias... :B
    Mais no geral o livro e o filme são obras primas!
    Muito boa a resenha, parabéns! ;)

    Tem post novo lá no blog!

    http://cinco-datarde.blogspot.com/

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    1. Dois dias? :o eu demorei um pouco mais, infelizmente.
      Mas isso não diminui a intensidade e maravilha, Reparação é mesmo uma obra-prima!

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  3. Gostei muito do seu blog...que bom estar aqui...sucesso sempre.

    O livro parece muito interessante

    http://amazoniaumcaminhoparaosonho.blogspot.com/

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  4. Me encantei muito com esse livro e confesso que já fui no site da livraria cultura ver o preço e tô pra pegar o telefone e encomendar. Faz tempo que não vejo por aí a resenha de um livro que pareça tão completo e tão intenso quanto esse (e quando digo intenso, quero dizer intenso de verdade). A história, contada por alto assim, me faz lembrar algum filme de que eu já tenha ouvido falar ou algo parecido com um episódio de Law&Order SVU. Não sei porque cheguei a fazer essa comparação, talvez pela menção ao estupro. De qualquer maneira, me encantei de verdade. Essa, de fato, é uma leitura que eu não só quero, como VOU conferir depois de ouvir falar nela ;) E pra quem achou o preço alto (R$62,00), tem a edição econômica da Companhia das Letras (R$32,00 o preço e pra quem tem o cartão da cultura, fica R$27,90)

    Abraços,
    http://ninanoespelho.blogspot.com

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  5. Cynthia, eu comprei o meu na www.estantevirtual.com.br e foi menos de R$20 (com frete incluso!) suuuper bem conservado ;D

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  6. Não sei comprar livros no estante virtual, aheuahue. Todas as vezes que tentei, me enrolei pra pagar e depois não sabia como cancelar o pedido... De qualquer maneira, apostei na edição econômica mesmo hauheuae. Acho que é a primeira vez que eu termino de ler uma resenha e já pego o telefone pra reservar o livro :x amanhã mesmo vou buscar, fiquei empolgada hehe.

    Abs!

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  7. Milena,
    Confesso que gostei muito de vir ao seu blog pela primeira vez e deparar-me com uma obra relativamente desconhecida (leia-se não pertencente a nenhum dos kits que a Novo Conceito envia a seus blogueiros). Confesso, também, que perdi-me um pouco na descrição da história, mas que isso não atrapalhou a formação da minha impressão acerca do livro. Desde as descobertas relacionadas ao surgimento do sexo na adolescência até o conflito entre o anonimato de uma enfermeira e a pretensão dela de se tornar uma grande romancista, o livro pareceu-me genial. Sobretudo, eu tenho uma grande atração pela literatura inglesa - estou lendo as obras-primas das irmãs Brontë, no momento -, e é sempre bom conhecer um novo autor oriundo das terras britânicas.

    Um beijo,
    Robledo. || http://livrosletrasemetas.blogspot.com/

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    1. A literatura inglesa é fascinante, e não só por Jane Austen, as irmãs Bronte, R.L Stevenson, Dickens e outros mestres. Li recentemente Ken Follett e fiquei encantada!

      Gosto muito dos livros da Novo Conceito, mas não os considero tão singulares e acho que os leitores deviam se prender a coisas mais intensas.

      Reparação é maravilhoso, vemos a cabeça de uma criança confusa por descobrir a sexualidade e agir sem medir a consequência dos seus atos.

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  8. Mi, eu vi esse filme quando ele passou no cinema e devo admitir, eu odiei! =/
    Mas reconheço que talvez tenha sido pelo fato de ter esperado um romance arrebatador e não uma história tão triste e trágica quanto essa!
    Sinceramente reconheço que o livro deve ser uma obra prima, super bem escrito e muito bem desenvolvido mas não tenho estômago para tamanha tragédia, eu fico sempre amuada e me sentindo triste por alguns dias - como se o caso fosse real mesmo, vai entender! Além do mais, isso deve ser ainda mais acentuado pela escrita do autor, que pelo que você falou e por tudo que eu já li, não tenho dúvidas ser muito bem realista, a ponto de nos fazer adentrar na história ainda mais à fundo.
    Realmente senti muita, muita raiva da Briony, por ter destruído de tal forma duas vidas tão preciosas e esse sentimento me acompanhou durante todo o filme. Mas serve de forma muito clara para nos fazer refletir que determinados atos são de fato, irreparáveis.

    Adorei a resenha! Beijos!

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    1. Duda, para ser sincera, depois fiquei pensando em tudo que podia ter acontecido, em como as coisas poderiam ter tomado outro rumo, fiquei remoendo, sofrendo, sentindo pena e saudades. O livro é muito bom porque envolve o leitor. Depois cai a ficha "é só uma história. Ninguém vai morrer por causa disso".

      Autor muito bom!

      Choreeei com o filme, rs.

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  9. Assisti ao filme, e embora meio triste, é muito interessante... já o livro fikei sem empolgação para ler...

    Bjks!

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Obrigada!