(NABOKOV, Vladimir. Lolita. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 323).
"O fato é que eu a amava. Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre."
(NABOKOV, Vladimir. Lolita. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 314).
Escolhi esses trechos tão doces para
desmistificar um pouco o livro Lolita.
À primeira lida na sinopse, a obra prima do Nabokov pode parecer um livro completamente
asqueroso por narrar a história de um homem quarentão que se apaixona
loucamente por sua enteada de 12 anos. Mas Lolita
é muito mais que um livro sobre pedofilia.
Um dos livros mais bem escritos
que tive oportunidade de ler na vida, Lolita
é narrado em primeira pessoa pelo próprio Humbert Humbert e no contexto da
história é uma obra póstuma que foi escrita enquanto o narrador-personagem
estava na prisão e publicada somente depois que ele morreu por lá. (ATENÇÃO:
Estou falando sobre o personagem fictício e não sobre o escritor Vladimir
Nabokov).
O narrador nos fala sobre sua
infância e sua paixão aos 13 anos por uma garota, que o marcou por toda a vida.
Após um casamento mal sucedido, o professor Humbert Humbert muda-se para os
Estados Unidos e lá chegou a ser internado em um sanatório. Ao ser considerado
“curado”, ele vai morar numa cidade do interior e é aí que ele conhece e se
apaixona por Dolores Haze, que ele chama de Lolita.
Para manter-se perto da sua
pequena paixão, ele decide casar-se com a mãe dela; devido a alguns
acontecimentos, ele e a menina partem numa viagem pelos Estados Unidos.
Basicamente é essa a história de Lolita e nós seguimos ávidos na leitura
para descobrir porque o Humbert Humbert terminou os seus dias preso e o que
aconteceu com a sua ninfeta.
Para falar desse livro, eu preciso
organizar as ideias para conseguir transmitir tudo que eu senti com esse livro,
que com certeza superou minhas expectativas.
A primeira coisa que preciso
dizer é que Humbert Humbert não é um pedófilo qualquer, ele só se sente atraído
por ninfetas, um tipo de meninas com um charme diferente e que exercem um
grande poder sobre ele, embora não se deem conta disso. A ruína de Lolita foi
perceber o quanto ela podia manipular o Humbert, o poder que ela tinha sobre
ele.
Durante o livro, o personagem
aborda com delicadeza e profundidade, a sua obsessão por ninfetas, o fascínio
delas ou das suas estranhezas para estar perto delas. Entretanto, o narrador
convence que faz tudo isso de uma forma recatada, ele devora as ninfetas apenas
à distância.
Ao conhecer Dolores Haze, a quem
ele chama de Lolita (eu já citei isso, né?), ele se vê perdidamente apaixonado
pela menina. E com a convivência – narrada por ele – surge a possibilidade de
ter sido Lolita a grande culpada de tudo, como se ela o provocasse e seduzisse.
O tempo todo os pensamentos do
Humbert são asquerosos e pedófilos, mas, apesar de ter passado um tempo internado,
ele não é tão perigoso, porque ele aprecia as ninfetas de longe. E ele tenta
convencer o leitor que foi uma vítima de Lolita, mas é preciso ressaltar que é
ele quem está contando a história. Como narrador, o Humbert nos
transmite a sua visão, certamente distorcida pela paixão. É ele quem nos conta
das tentações da menina.
Consigo ver aqui culpa e
inocência na menina. É verdade que em determinados momentos ela o provoca com
frases e atitudes, mas ela é somente uma menina entrando na puberdade. E tudo
que ela faz é ingenuidade dela e também pela noção de controle que ela tem
sobre o Humbert. Eu vi a Lolita como se ela estivesse apenas brincando. E,
depois, quando as coisas ficam sérias demais e o humor dela muda, quando ela
começa a chorar, ficar agressiva, é porque ela está se dando conta da infância
e liberdade perdidas.
Muita gente diz que o livro é
nojento e que é preciso ter muita frieza para ler Lolita, mas eu acho que não. Durante uma parte do livro, toda a
“sujeira” está apenas nos pensamentos do Humbert. E depois ele passa
implicitamente pelo sexo. É tudo contado de forma “superficial” ou metafórica,
não é um livro pornô. Lolita não tem
nenhum palavrão.
Além de mostrar um grande domínio
de linguagem e escrita, Nabokov domina o assunto abordado. Humbert é um
personagem muito bem construído, ele é perfeito. Eu não entendo nada sobre
pessoas loucas, mas a forma que ele narra a história mostra que ele é doente;
seus pensamentos sempre tão concentrados nas ninfetas e na sua sua sua Lolita
apresentam claramente o nível de sua obsessão e sua constante tentativa de
diminuir sua culpa, de se colocar como vítima é, para mim, uma característica
perturbada, manipuladora, doentia que é movida pela paixão.
Mas, gente, que final é aquele? Depois de todo o asco, a repugnância. Eu não consegui odiar o Humbert Humbert porque o fim me pareceu um redenção. É muito tocante, é romântico, é delicioso. No todo, Lolita é um livro convincente e uma leitura muito agradável!
|| Informações:
Lolita do original Lolita
Escrito por Vladimir Nabokov e traduzido por Sergio Flaksman; Posfácio de Martin Amis
Publicado pela editora Alfaguara
391 páginas
Ótima resenha Mi, já li este livro, mas não consigo me lembrar das sensações que senti ao ler.
ResponderExcluirAssim que eu por minhas leituras em dia, com certeza vou procurar pelo Lolita, nem me lembro mais do final :O
Achei que a sua resenha ficou muito boa, de verdade. Já ouvi falar desse livro, mas nunca me interessei por ele, acho que não ia gostar da leitura.
ResponderExcluirBeijokas :*
Blog da Mylloka
Gente, que primor de resenha. Sério. Fiquei encantada.
ResponderExcluirDefinitivamente preciso ler Lolita, e acho que entrará nas minhas leituras do mês que vem.
Espero conseguir ter a mesma visão que tu.
liliescreve.blogspot.com
Ai, agora fiquei extremamente curiosa para ler esse livro. Já estava um pouco, agora demais. Caçando aqui, pra ler em breve.
ResponderExcluirThais Vianna
2dathais
Mi querida sua resenha ficou fantástica fique mega curiosa para ler esse livro.
ResponderExcluirAdoto sua visão dos livros clássicos, além do mais quem vai ler esse livro tem que ler com mente aberta e sem preconceitos não é????
Estou lendo um livro que fala de pedofilia também Cilada do Harlan Coben, conhece????
Bjos
Eu nunca tive vontade de ler, justamente pelo teor do livro. Pra mim não tem isso de vítima, um homem que se apaixona por uma menina/criança é o único culpado, e sim, pedófilo. Lógico que é fácil falar, já que não li o livro, mas não vejo como posso sentir pena, mesmo que ele pense mais do que faça, até porque é justamente como você disse, temos que levar em consideração que é ele quem está narrando e vai contar o lado dele, que claramente será um pouco aliviado/deturpado pelo seu ponto de vista. Talvez isso mude ao ler a história, não sei.
ResponderExcluirDe qualquer forma, não descarto a leitura no futuro, até porque fiquei curiosa para saber o que acontece e de que forma o personagem consegue encontrar a sua redenção. A construção do personagem parece ser impecável.
A resenha ficou ótima, Mi!
Beijos!
Fiquei super curiosa pra ler esse livro!!! Espero conseguir logo!!! Seria bom se tivesse a versão da Lolita da história.
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