terça-feira, 8 de abril de 2014

Livros brasileiros: que nada nos obrigue.

Eu li Dom Casmurro duas vezes. Nenhuma dessas leituras foi obrigatória.

Eu também já li Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Aluísio Azevedo, Graciliano Ramos... mas não só os clássicos: eu já li Martha Medeiros, Adriana Falcão, Marçal Aquino, Chico Buarque, Arnaldo Jabor, Paulo Coelho, Walcyr Carrasco, Thalita Rebouças, Marcelo Rubens Paiva, Fernando Morais, Laurentino Gomes... mas não só os consagrados: Tammy Luciano, Marina Carvalho, Tico Santa Cruz, Fabiane Ribeiro, Vanessa Bosso... e até mesmo religiosos Pe. Fábio de Melo e Gabriel Chalita...

Alguns recomendo, outros não... quando o assunto são autores/livros brasileiros, não estou nem a favor nem contra e hoje pretendo explicar o motivo.

O mercado literário é difícil. Essa é a frase mais clichê quando o assunto é viver de literatura no Brasil... (viver de literatura é basicamente escrever algo que as pessoas leiam, gostem, indiquem, recomendem... e as vendas cresçam). E vários autores usam desse argumento para completar que os leitores não dão valor aos excelentes autores nacionais e que isso piora o cenário... Simplesmente não justifica.

Não existe um gênero "literatura brasileira" e ler ou não livros nacionais não aumenta ou diminui as qualidades de um leitor. Aliás, se uma pessoa não sentiu interesse em ler nenhum livro que tenha um escritor brasileiro, não significa que ela está contribuindo para as dificuldades da literatura nacional. Ninguém é obrigado.

A verdade é que a escolha de um livro envolve vários fatores como capa, sinopse, indicações... quando o autor é conhecido, o nome dele também pode pesar como ponto positivo ou negativo. Mas raramente olho a nacionalidade do autor para formar uma opinião sobre um livro.

São frequentes as campanhas "eu leio nacionais, eu incentivo a literatura nacional, eu apoio autores nacionais"... Isso sempre me parece uma apelação do tipo "mesmo que você não queira, leia para nos ajudar". Não acho que devemos ler livros brasileiros somente porque o mercado brasileiro é difícil... um bom livro é um bom livro independente de quem o tenha escrito e de onde esse autor tenha nascido ou crescido (para incluir a Lispector nessa categoria).

Aliás, as pessoas ficam meio avessas à literatura nacional porque, na escola, somos obrigados a ler José de Alencar (que, sim, já li, espontaneamente), Machado de Assis, Álvares de Azevedo... e alguns outros mais novos que tenham ganhados seus Jabutis da vida... e ler por obrigação é a coisa mais insatisfatória do mundo. A obrigação torna o livro chato.

Então, minha campanha é que nada nos obrigue, que não existam motivos para ler livros brasileiros além da pura vontade de ler. Eu, Millena, leio o que quero, incentivo a leitura e apoio os bons livros.

P.s. (1) amanhã tem a continuação dessa temática: e que nada nos impeça! e (2) eu nunca li Monteiro Lobato.

3 comentários:

  1. Milena eu AMEI essa postagem e vai estar no meu relembrando do mês.
    Eu curto incentivar, porque curto incentivar a economia local. Ou seja: cinema nacional, turismo nacional etc etc etc Valorizar minha cultura e meu povo.
    Mais também acho que o que me faz ler um livro e gostar não é relativo ao autor. Eu posso gostar de um livro porque o autor retrata minha cidade ou hábitos do meu país e me identificar. Ok e isso é ponto pros nacionais. Mas o livro funcionar, independe da nacionalidade.

    A verdade é que temos bons autores nacionais, e temos alguns recentes que são mais conhecidos mas ainda não são (para mim) grandes autores.
    Tem muito livro estrangeiro que chega aqui. Mas o fato de um livro de qualquer país (mesmo EUA) ser traduzido pra outro idioma e chegar naquele país, significa que ele já deu minimamente certo na sua origem. (eu posso desgostar, achar péssimo, ainda assim não é do nada que o livro foi comprado por uma editora de outro país).
    Por isso, é claro que livros estrangeiros tendem a fazer um pouco mais de sucesso (ou mais rápido).


    liliescreve.blogspot.com

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  2. Mi adorei sua reflexão, bem argumentada. Concordo em partes, porque acredito que nem todos que "levantam bandeiras" estão dizendo que quem não lê nacionais está errado. Lá no blog eu levanto a bandeira dos nacionais, não impondo nada a ninguém, mas na tentativa de despertar a curiosidade e quem sabe o interesse daqueles que me visitam. Penso que do mesmo jeito que escolhemos um livro estrangueiro podemos escolher um nacional, dar uma oportunidade. Essa questão de ser bom ou ruim é relativo. Enfim eu entendo e respeito seu ponto de vista.
    Gostei do texto e da abertura para um debate. Beijos!!!!

    Leituras, vida e paixões!!!

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  3. Uma leitura espontânea é o que há de mais perfeito... mas algumas obrigatórias e que eu pensei serem chatas foram, na verdade, grandes presentes para mim e lembro sempre. Cada livro, uma história (não só a que há dentro dele, mas a dele com a gente).

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Obrigada!