“Machado de Assis é um exemplo.
Tinha tudo para dar errado e não deu”
Pe. Fábio de Melo em Cartas
Entre Amigos – sobre ganhar e perder
Dom Casmurro? Ah, mas todo mundo já conhece a história desse
livro! Nem preciso dizer que esse é um clássico brasileiro de leitura
obrigatória blá blá blá, né? Aliás, eu super recomendo!
Já ouvi, vi e li muitos comentários positivos e negativos a
respeito dessa obra e fico decepcionada quando encontro alguém que não
compreende a dimensão da importância de Machado de Assis e MAIS AINDA quando
encontro alguém que nunca leu Machado de Assis.
Dependendo da circunstância em que ocorre a leitura, o livro pode
ser agradável ou não. Concordo que diante da obrigação, encontramos um livro
tedioso, uma linguagem antiga com vocábulos e referências desconhecidas: todos
os ingredientes para deixar o livro perfeitamente cansativo e digno de
abandono.
Entretanto, uma leitura iniciada espontaneamente pode gerar bons
frutos... Claro que, na minha condição de apaixonada por clássicos e literatura
brasileira, encontro em Machado de Assis um prato cheio.
Confesso que na primeira vez que li Dom Casmurro senti dificuldade
para avançar nas páginas e achei que eram desnecessários aqueles capítulos
pequenos. Hoje a releitura fluiu tranquilamente e percebi que os capítulos
curtos tornam a leitura mais breve e fácil.
MAS... não é minha intenção dar uma aula de literatura aqui, ok?
Bentinho e Capitu cresceram vizinhos e tornaram-se amigos,
entretanto a mãe de Bentinho, D. Glória pretende mandá-lo para o seminário em
pagamento de uma promessa feita quando o menino nasceu.
A mãe de Bentinho é uma senhora viúva, cândida e em alguns
momentos bastante ingênua. Católica, religiosa e fervorosa, perdeu o primeiro
bebê e, na ocasião da gestação de Bentinho, ela prometeu que, se o menino
nascesse, ela o faria padre.
Diante da possibilidade de ficarem longe um do outro, Capitu aconselha induz Bentinho a
pedir a José Dias que este convença D. Glória a não mandar o menino para o
seminário. José Dias não obtém total êxito, mas consegue impor a seguinte
condição: se Bentinho tiver vocação, torna-se padre; e, no caso contrário, ele
volta para casa e estuda Direito na Europa. O intuito de José Dias era
acompanhar Bentinho à Europa.
José Dias é um agregado da família que aos poucos conquistou
espaço e influência.
Bentinho e Capitu prometem que casar-se-ão [acreditem: se as
pessoas entendessem, eu falaria assim!] um com o outro, trocam o primeiro beijo
e Bentinho vai para o seminário.
Capitu é uma menina bonita – aos olhos de Bentinho – inteligente,
esperta, perspicaz, dissimulada, esquiva e que tem o poder de persuadir e
influenciar Bentinho a satisfazer todas as suas vontades. Ela é a mulher que
todas nós queríamos ser.
Recluso, Bentinho torna-se amigo de Escobar – Ezequiel Escobar –
um rapaz atraente que cativa toda a família de Bentinho. Um ano depois, ambos
saem do seminário. Escobar para dedicar-se ao comércio e Bentinho para estudar
as leis, contudo sem ir para a Europa.
Escobar casa-se com Sancha e eles logo têm um bebê. Bentinho e
Capitu casam-se, o bebê tão desejado demora um pouco, mas vem saudável e cheio
de energia.
O menino recebe o nome do amigo de Bentinho e vai crescendo com o
hábito de imitar os outros, até que Bentinho percebe que ele se parece muito
com o próprio Escobar no jeito de andar, falar etc.
Tá, não foi uma das melhores resenhas sobre Dom Casmurro, mas este é um livro rico em
detalhes que merece uma tarde inteira para ser contado e discutido e este post
já está ficando muito extenso.
O livro tem vários personagens, tio Cosme, prima Justina, Pádua,
protonotário Cabral, Sancha e outros que preenchem o segundo plano da história,
mas Bentinho – ou Machado de Assis – não deixa de dar um olhar crítico e
analítico sobre cada um deles.
Machado de Assis criou uma polêmica em torno deste enredo e levou
a resposta do mistério consigo para o túmulo, afinal, Capitu traiu ou não traiu
Bentinho?
É preciso ler, reler e treler este livro para tentar criar uma
opinião e sempre vai existir alguém com bons argumentos para discordar.
O que eu mais queria desde o momento que comecei esta postagem é
dizer que EU ACREDITO QUE CAPITU NÃO TRAIU BENTINHO e eu até estava querendo
argumentar, mas... não quero influenciar ninguém com minha opinião, só acho que homens ciumentos tendem a inventar coisas
em suas cabeças férteis.
Enfim, este é o mesmo caso de ponto de vista que citei no
livro A menina que não sabia ler, o narrador personagem acredita em uma coisa e usa todo o
livro para convencer o leitor que a visão dele sobre os fatos é a correta.
Obrigada!
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