Hoje fiz o impensável: doei o livro Coraline. Com medo, com remorso e com saudade, parafraseando Manuel Bandeira. Quando o entreguei nas mãos do aluno (meu aluninho do projeto Clic@v) já me sentia arrependida e ao mesmo tempo satisfeita, doar livros faz parte da minha rotina já há um tempo.
Li Caroline Coraline em 2013 e foi na época que comecei a vacilar com o blog e terminei não escrevendo sobre o livro aqui... Assim como o filme, Coraline é um terror bem psicológico para crianças, mas que eu recomendaria a leitura para os maiores de 14 anos. Coraline atinge o público infanto-e/ou-juvenil justamente por atacar um ponto em comum a todos: a insatisfação com o mundo ao redor... quem nunca desejou, nem por um segundo, ter uma vida, uma casa, uma família diferente? Ao encontrar uma passagem para outro mundo, Coraline encontra também o dilema: o que ela tem x o que ela quer. Simples, mas desde pequenos sabemos que (1) querer está tão longe de poder e (2) tudo tem um preço. Nessas idas e vindas de um universo para o outro, Coraline descobre o preço a ser pago para ter a vida que deseja e como coisas macabras podem se esconder com as fantasias das nossas ilusões...
Aparentemente, o mundo de lá (que é o mundo além do nosso) é perfeito (como nós achamos que ele é), mas o perigo da perfeição começa a se mostrar nas minúcias captadas por Coraline... Apesar de eu dizer: recomendo para as crianças "maiorzinhas", Coraline é o típico livro voltando para o público mais jovem: cheio de lições didáticas e morais, nos deixa várias reflexões sobre como lidamos com o mundo ao nosso redor, temas como coragem e amor são explorados de uma forma encantadora.
Neil Gaiman é muito fantástico (fantasioso/excepcional) em sua elaboração e, embora eu tenha lido apenas esse livro, tenho a convicta impressão de que toda sua obra é assim. Ele nos envolve. A colocação exata sobre o que acontece ao abrir esse livro é: ele nos seduz assim como o mundo de lá seduz a Coraline...